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27.2.25

Ansioso, evitante ou seguro? Como o estilo de vinculação influencia a sua relação

 


Quando a Susana está numa relação, vive com medo que o namorado a deixe – basta um emoji diferente no chat para ela entrar em pânico. Já o Tiago, assim que a namorada começa a falar em viverem juntos, sente um frio na barriga e começa a arranjar desculpas para se distanciar. Duas atitudes opostas, mas ambas comuns em relacionamentos amorosos. A raiz pode estar nos diferentes estilos de vinculação amorosa (ou estilos de apego) de cada um.

A teoria da vinculação, desenvolvida por psicólogos, explica que as nossas primeiras experiências de amor – lá atrás na infância, com os nossos cuidadores – moldam a forma como nos ligamos aos outros em adultos. Simplificando, tendemos a desenvolver um de três estilos principais: ansioso, evitante ou seguro. Nenhum estilo é “defeito” seu, são adaptações que fizemos para sobreviver emocionalmente. Mas podem afetar (e muito) a sua vida de casal hoje.

Vamos descobrir em que perfil você (ou o seu parceiro) se encaixa?

Estilo Ansioso: o medo de não ser amada

Quem tem um apego ansioso anseia por proximidade e tem um medo profundo do abandono. Amor e ansiedade andam lado a lado, o que pode ser extremamente desgastante. Algumas características típicas de uma pessoa com estilo ansioso:

  • Hipersensibilidade a sinais do parceiro: Repara em cada pequena mudança de tom de voz, olhar ou mensagem. Se o outro parece mais calado num dia, já imagina que o amor esfriou.
  • Necessidade constante de reafirmação: “Tu amas-me mesmo?” poderia ser o lema. Precisa de frequentes demonstrações de afeto e segurança de que está tudo bem na relação.
  • Medo de expressar necessidades: Ironicamente, quem tem medo de ser abandonado às vezes evita falar do que o incomoda, com receio de afastar o parceiro. Engole sapos e finge que está tudo bem para manter a paz.
  • Comportamentos de protesto: Quando se sente insegura, pode acabar por fazer “joguinhos” (mesmo sem querer). Por exemplo, demorar de propósito a responder a uma mensagem para ver se o outro se preocupa, ou mostrar ciúmes exagerados para testar o quanto ele se importa.

Por trás do estilo ansioso há, muitas vezes, a crença de não ser suficientemente boa ou de que vai acabar sozinha. Essas pessoas dão tudo de si na relação amorosa, mas às vezes esquecem de dar valor a si próprias. A boa notícia? Com consciência e trabalho interior (muitas vezes em terapia), é possível acalmar essas inseguranças e criar ligações mais seguras. Aliás, ao ganhar confiança em si, deixa de precisar de “joguinhos” para chamar a atenção do parceiro, construindo interações mais honestas.

Estilo Evitante: o medo de perder a liberdade

No outro extremo, o estilo evitante valoriza tanto a independência que a intimidade profunda pode assustar. Pessoas evitantes desejam amor como qualquer outra pessoa, mas o excesso de proximidade aciona um alarme interno de que estão a ser “sufocadas” ou de que vão perder a autonomia.

Características comuns de um perfil evitante:

  • Precisa de espaço (muito espaço): Gosta de estar num relacionamento, mas se o parceiro começa a exigir mais tempo ou compromisso, sente necessidade de se afastar para “respirar”.
  • Dificuldade em expressar vulnerabilidade: Falar sobre sentimentos profundos ou necessidades emocionais não é confortável. Prefere evitar essas conversas ou tratá-las de forma racional, quase como se as emoções fossem um incómodo.
  • Tendência a focar-se nos defeitos do parceiro: Inconscientemente, pode sabotar a intimidade arranjando defeitos no outro quando a relação se aprofunda. Pensamentos do tipo “ela é ótima, mas não é bem perfeita para mim” funcionam como desculpa para manter alguma distância.
  • Autossuficiência extrema: Orgulha-se de ser independente. Em momentos de stress ou conflito, retira-se para dentro de si em vez de buscar apoio. Para o parceiro, parece frio ou indiferente.

Quem é evitante nem sempre percebe o quanto magoa o outro com o vai-e-vem emocional. Provavelmente, lá atrás, aprendeu que depender de alguém acaba em dor – então decidiu “não precisar” de ninguém. O desafio é entender que deixar alguém entrar não significa perder a identidade. Com paciência e possivelmente ajuda profissional, um evitante pode equilibrar independência e intimidade.

Estilo Seguro: o equilíbrio saudável

O estilo seguro é aquele com que todos nascemos potencialmente, e muitos conseguem desenvolver – normalmente fruto de ter recebido cuidados consistentes e afeto na medida certa em criança. Adultos com um estilo de vinculação seguro têm um equilíbrio saudável entre proximidade e autonomia.

Como os podemos reconhecer?

  • Confortáveis com a intimidade: Gostam de estar próximos, mas também não se afligem quando há espaço ou momentos a sós. Conseguem dar e receber amor sem drama excessivo.
  • Comunicação clara e empática: Expressam o que sentem (para o bem e para o mal) de forma respeitosa. Se algo os incomoda, falam diretamente sem acusar; se estão chateados, conseguem ouvir o outro sem explodir ou fugir.
  • Confiança e suporte mútuo: Tendem a confiar no parceiro e a ser confiáveis. Não fazem jogos para testar o amor. Também aceitam bem os “nãos” do outro, sem interpretar isso como rejeição pessoal devastadora.

Estar com alguém seguro é muitas vezes descrito como “fácil” (no bom sentido!). Há menos adivinhações e mais certeza. Mas atenção: ser seguro não significa não precisar de esforço; apenas torna a navegação da vida a dois mais suave.

Podemos mudar nosso estilo de vinculação?

Sim! A melhor notícia de todas é que os estilos de vinculação não são uma sentença perpétua. São padrões aprendidos, e qualquer coisa aprendida pode ser ajustada. Uma pessoa ansiosa pode tornar-se mais segura ao aprender a acalmar os seus medos e a fortalecer a autoestima. Um evitante pode, gradualmente, sentir-se mais confortável em depender de quem merece confiança.

As relações com pessoas seguras ajudam muito porque“reeducam” o nosso coração a confiar. Além disso, a própria terapia de casal ou individual é um espaço onde podemos explorar essas feridas antigas num contexto seguro. Com autoconhecimento e prática, é possível construir relacionamentos mais seguros mesmo que o seu ponto de partida tenha sido ansioso ou evitante.

No fim das contas, conhecer o seu estilo de vinculação é uma ferramenta poderosa. Ajuda a explicar, por exemplo, porque é que entra em pânico se a outra pessoa se afasta um pouco, ou porque sente vontade de fugir quando alguém chega perto demais. Essa consciência é o primeiro passo para mudar o que for preciso e aproximar-se do equilíbrio ideal: nem medo do abandono, nem medo de compromisso – apenas um amor em que a confiança e a autonomia caminham de mãos dadas.

26.2.25

Relação tóxica ou apenas difícil? Identifique os sinais de perigo

 


A Mariana sempre achou que tinha uma relação amorosa intensa, embora turbulenta. As amigas avisam: “Isso está muito tóxico!”. Ela hesita – afinal, ele nunca a agrediu fisicamente. Então será mesmo uma relação tóxica ou apenas uma fase má? Se você já se fez esta pergunta, saiba que não está sozinha. Entender a diferença entre um relacionamento saudável, um apenas difícil e um genuinamente tóxico pode ser a chave para proteger a sua saúde emocional.

O que é uma relação tóxica?

Uma relação tóxica é aquela em que, sistematicamente, um ou ambos os parceiros têm comportamentos que minam o bem-estar emocional do outro. Não se trata de uma discussão pontual ou de um período de stress; é um padrão repetitivo que a deixa insegura, ansiosa ou com a autoestima em baixo. Numa relação tóxica, em vez de se sentir apoiada e amada, sente-se em constante estado de alerta – como se tivesse de andar “a pisar em ovos” para evitar mais conflitos.

Importante: todas as relações passam por altos e baixos. Os desentendimentos acontecem mesmo nos casais felizes. A diferença é que, num relacionamento saudável, há respeito e responsabilidade mútua. Num relacionamento tóxico, o desrespeito torna-se rotina e um dos dois (ou ambos) acaba sempre por sair magoado.

Sinais de alerta numa relação amorosa tóxica

Como saber se é o seu caso? Cada história é única, mas muitos relacionamentos tóxicos apresentam sinais de alerta parecidos. Aqui estão alguns indicadores de que algo está errado:

  • Críticas e humilhações constantes: O seu parceiro rebaixa-a, faz piadas cruéis sobre si ou aponta muitos defeitos, mesmo em público.
  • Controlo e ciúmes exagerados: Ele quer saber onde você está a toda hora, não gosta que saia com amigas ou família, ou tenta controlar a forma como você se veste e o que faz.
  • Culpa e manipulação: Sempre que há um problema, a culpa magicamente recai sobre si. Você acaba por pedir desculpas só para evitar discussões.
  • Comunicação agressiva ou silêncio punitivo: As discussões rapidamente escalam para gritos, insultos ou até objetos atirados… Ou então ele faz exatamente o oposto: fica dias sem falar consigo como forma de castigo.
  • Você já não se reconhece: Sente que perdeu a confiança, a alegria ou amigos desde que está com essa pessoa. A sua energia vai toda para tentar agradar o outro e evitar conflitos, esquecendo-se de si mesma.
  • Ciclo vicioso de rompimento e reconciliação: Talvez vocês terminem e se reconciliem constantemente. Depois de cada discussão feia, vem um período de “lua-de-mel” em que ele promete mudar... mas pouco tempo depois tudo volta ao mesmo ciclo doloroso.

Se identificou vários destes sinais na sua relação, é provável que haja toxicidade envolvida. Muitas mulheres descrevem a sensação de “montanha-russa emocional”: momentos de afeto seguidos por momentos de tensão extrema, num loop exaustivo.

Nem tudo é narcisismo (mas continua a ser tóxico)

Nos últimos tempos ficou comum rotular qualquer parceiro difícil como “narcisista” ou “abusador”. Às vezes, a pessoa com quem você está pode não ter uma personalidade manipuladora de propósito, mas sim carregar feridas emocionais ou um estilo de vinculação complicado. Por exemplo, alguém muito frio e distante pode não o ser por maldade deliberada, mas porque tem um estilo de vinculação amorosa evitante ou traumas que o levam a erguer muros. Isso não desculpa comportamentos que a magoem – porém, entender a raiz pode ajudar a decidir o que fazer.

Pergunte a si mesma: Ele reconhece o impacto das próprias ações ou está sempre a virar o jogo e a fazer-se de vítima? Quando você expressa a sua dor, ele tenta escutar ou reage atacando? Os momentos bons parecem uma tentativa genuína de conexão ou só servem para mantê-la presa num ciclo de manipulação? As respostas a estas questões ajudam a clarificar se há esperança de mudança ou se está perante um padrão destrutivo.

Como quebrar o ciclo tóxico

Admitir que está numa relação tóxica não é fácil. Muitas vezes há vergonha (“Como é que eu deixei chegar a este ponto?”) e esperança de que “tudo melhore”. Mas ficar sozinha à espera de milagres raramente funciona. Aqui ficam alguns passos importantes a considerar:

  • Priorize a sua segurança emocional (e física): Em casos de abuso verbal ou físico, a prioridade número um é garantir que está segura. Isso pode implicar afastar-se temporariamente para ganhar clareza.
  • Quebre o isolamento: Relações tóxicas tendem a isolar-nos. Fale com alguém de confiança sobre o que está a viver – uma amiga, um familiar ou mesmo um terapeuta. Ouvir a perspetiva de fora ajuda a reforçar que não está louca ou “a exagerar”.
  • Estabeleça limites claros: Defina o que não vai mais aceitar. Pode ser falta de respeito nas discussões, invasão de privacidade, etc. Comunicar os seus limites é essencial, embora numa relação muito tóxica o outro possa ignorá-los – o que é, por si só, um sinal de alerta.
  • Considere procurar ajuda profissional: A terapia pode ser um espaço seguro para ganhar forças e compreender por que ficou presa neste ciclo. Um psicólogo ou a terapia de casal (se houver abertura dos dois) pode ajudar a mudar dinâmicas – mas note que, se o parceiro for mesmo abusivo e não reconhece erros, a terapia de casal pode não ser indicada. Nesses casos, a terapia individual para si pode ser mais útil.
  • Prepare um plano de saída (se necessário): Infelizmente, nem todas as relações tóxicas podem ser salvas. Se percebe que está a perder a sua saúde mental, pode ser altura de considerar terminar. Planeie com cuidado, principalmente se houver dependência financeira ou filhos envolvidos. Lembre-se: terminar não é um fracasso seu, é a libertação de um ciclo que não lhe faz bem.

Merece amor, não sofrimento

Ninguém inicia um relacionamento a pensar que vai acabar assim. Você merece uma relação onde se sinta amada, respeitada e segura. Identificar a toxicidade é o primeiro passo para recuperar o controlo da sua vida e do seu bem-estar. Pode ser que o seu parceiro aceite mudar e vocês consigam juntos transformar a relação. Mas se não, valorize-se o suficiente para escolher outro caminho.

Sair de uma relação tóxica requer coragem e apoio, mas a recompensa vale muito: reencontrar a paz, a autoestima e a possibilidade de um amor saudável. Afinal, amar não deveria nunca destruí-la. Cuide de si, reforce os seus limites e lembre-se de que não está sozinha – é possível reconstruir a vida e encontrar relações mais positivas.

Porque é que os casamentos já não duram?

 


As novas regras do amor moderno

A avó da Inês casou aos 20 anos e ficou casada a vida inteira, mesmo não sendo feliz. Já a Inês, aos 35, saiu de uma relação de vários anos porque sentia que “merecia algo melhor”. O que mudou de uma geração para a outra? Os tempos mudaram, e as relações amorosas também. Antigamente, muitas mulheres permaneciam num casamento por necessidade ou pressão social. Hoje, a relação amorosa precisa de ser um espaço de crescimento mútuo e realização pessoal. Em vez de “até que a morte nos separe” a qualquer custo, as mulheres modernas perguntam-se: “Esta relação faz-me feliz? Estamos a evoluir juntos como casal?”

Independência e expectativas mais altas

Atualmente, a maior parte das mulheres já não precisa de um marido para sobreviver financeiramente ou para ter um lugar na sociedade. Com essa independência, as expectativas num relacionamento amoroso ficaram mais altas. Não se trata de um capricho, mas de querer um relacionamento com significado. Procuramos relações onde haja respeito, apoio e espaço para evoluir – e não apenas alguém com quem partilhar as contas da casa.

Além disso, com mais liberdade e mais opções (olá, dating apps!), “assentar” cedo já não é prioridade. Em vez de casar com o primeiro namorado sério, muitas de nós preferem esperar pela pessoa certa – alguém que esteja alinhado com os nossos valores, objetivos de vida e sonhos. O resultado? Ficamos menos dispostas a tolerar relações mornas ou desequilibradas. Se antes a mentalidade era “mal por mal, mais vale ficar”, hoje pensamos: “Sozinha posso estar bem melhor do que mal acompanhada.”

O que realmente queremos de um parceiro?

Com a evolução dos papéis de género e das mentalidades, a lista do que valorizamos num companheiro também mudou. Queremos ao nosso lado alguém que:

  • Partilhe as tarefas e a carga mental do dia-a-dia, em vez de deixar tudo às nossas costas.
  • Invista no próprio desenvolvimento pessoal, em vez de se esconder atrás do famoso “eu sou assim mesmo” para não mudar hábitos.
  • Seja genuinamente honesto e transparente, construindo uma base sólida de confiança no relacionamento.

Por outro lado, estamos menos dispostas a ficar com alguém que nos faça sentir ignoradas, subestimadas ou emocionalmente sobrecarregadas. Ninguém quer partilhar a vida com um estranho que mal nos conhece de verdade. Queremos sentir-nos acompanhadas de verdade: ter alguém presente nos momentos difíceis, que comemore connosco as vitórias e que esteja disposto a navegar as fases de desconexão sem fugir ou ignorar os problemas.

Amor real não é um conto de fadas

Vale a pena lembrar: o casamento (ou qualquer relação séria) nunca foi um conto de fadas – e ainda bem! Filmes da Disney à parte, um relacionamento constrói-se com doses generosas de estabilidade, maturidade e consistência. As relações modernas oferecem liberdade para sair quando algo não vai bem, mas isso não significa desistir ao primeiro obstáculo. Pelo contrário, os casais de sucesso aprendem a crescer juntos, ajustando expectativas e comunicando necessidades.

Hoje sabemos que a terapia de casal não é “coisa de gente fraca” ou “casos perdidos”, mas sim uma ferramenta valiosa para fortalecer a relação. Muitos casais procuram a terapia não porque estão à beira do divórcio, mas porque querem melhorar a comunicação, resolver diferenças ou simplesmente investir na sua vida a dois de forma consciente. Em vez de aguentar em silêncio ou fingir que está tudo bem, há uma abertura maior para buscar ajuda profissional e evitar que pequenos problemas se transformem em barreiras intransponíveis.

Novas regras, o mesmo amor

Então, por que é que os casamentos já não duram? Em parte, porque já não nos contentamos com relações vazias ou desequilibradas. As “novas regras” do amor moderno implicam parceria de verdade, respeito mútuo e crescimento contínuo. As mulheres de hoje sabem o que merecem: um amor que seja refúgio e incentivo, e não uma prisão.

Isso significa que talvez haja mais divórcios – mas também quer dizer que quem fica junto tem mais probabilidade de estar realmente satisfeito. Afinal, permanecer numa relação passou a ser uma escolha, não uma imposição. E quando é escolha, queremos escolher bem.

Em suma: os relacionamentos modernos duram quando há entrega mútua, comunicação e um propósito comum. Se está numa relação conjugal, vale a pena refletir: as expectativas de ambos estão claras? Sente-se valorizada e ouvida? E você, tem oferecido ao outro o mesmo que pede? Não há fórmulas mágicas, mas uma coisa é certa – o amor hoje é mais desafiante exatamente porque podemos aspirar a muito mais. E isso, apesar de dar trabalho, é uma ótima notícia.

21.6.23

PARENTALIDADE CONSCIENTE

 


Já se questionou como é que é possível construir uma conexão profunda com os seus filhos sem descurar os limites saudáveis? já imaginou disciplinar os seus filhos sem recorrer a punições ou ameaças? É isso que a parentalidade consciente nos oferece.

Nos últimos anos ouvimos frequentemente falar sobre estilos de parentalidade, educação parental, parentalidade positiva e parentalidade consciente.

Mais do que uma moda, é importante reconhecer que o debate a propósito da parentalidade advém, sobretudo, do resultado da investigação científica sobre o neurodesenvolvimento das crianças. Sim, hoje sabemos muito mais sobre como se desenvolve e como funciona o cérebro das crianças e isso ajuda-nos a compreender (e a aceitar) aquilo de que elas são capazes e aquilo que simplesmente não conseguem (ainda que desejássemos muito que conseguissem).

Por exemplo, (quase) toda a gente sabe que um recém-nascido comunica as suas necessidades através do choro. Se tem fome, chora, se tem sono, chora, se quer colo, chora, se tem cólicas, chora. Para quê? Para que os cuidadores respondam às suas necessidades físicas e afetivas. Há poucas décadas, os pais e mães saíam da maternidade com a indicação de que não deveriam dar "demasiado" colo aos seus bebés para ele não ficarem "viciados". Também lhes era dito que os bebés deveriam ser deixados a chorar "para aprenderem a acalmar-se". Hoje sabemos que estas recomendações são exercícios de violência sobre os bebés! Porquê? Porque NENHUM recém-nascido tem a capacidade de se acalmar sozinho. Aquilo que acontece se deixarmos um bebé a chorar é que ele vai entrar num sofrimento tal que, a páginas tantas, o cérebro "desliga". É um mecanismo de defesa que pode cristalizar-se e trazer inúmeras consequências desagradáveis para as relações que aquele bebé vai desenvolver no futuro, incluindo na vida adulta.

Vamos então descobrir algumas ferramentas práticas que resultam da investigação das neurociências e que se enquandram naquilo a que hoje chamamos de parentalidade consciente. Estas ferramentas podem transformar a sua relação com seus filhos.

Uma ferramenta poderosa é a escuta ativa. Quando você se concentra em ouvir genuinamente os seus filhos, eles sentem-se valorizados e compreendidos. Isso fortalece o vosso vínculo e permite que eles se expressem livremente.

A resolução de conflitos colaborativa é outra ferramenta importante. Ao ajudar os seus filhos a encontrar soluções, colocando-lhes perguntas em vez de lhes dar as respostas, está a permitir que eles desenvolvam a capacidade de resolver problemas. Isso ajuda-os a sentirem-se ouvidos e envolvidos na busca de soluções justas.

A validação emocional é essencial. Quando você reconhece e valida as emoções e os sentimentos dos seus filhos, eles sentem-se seguros para partilhar os seus sentimentos e para se desenvolverem emocionalmente. Isso cria um ambiente de confiança onde eles se sentem à vontade para serem autênticos.

Promover a autonomia é uma ferramenta valiosa. Ao permitir que os seus filhos tomem decisões apropriadas à idade deles, permite que eles desenvolvam a autoconfiança e a capacidade de tomar decisões. Isso ajuda-os a tornarem-se adultos independentes e confiantes.

Cultivar a empatia é fundamental. Ao ensinar os seus filhos a colocarem-se no lugar do outro, eles aprendem a valorizar os sentimentos e perspectivas dos outros. Isso ajuda-os a construir relações saudáveis e respeitadoras.

A paciência é uma ferramenta valiosa na parentalidade consciente. Ao demonstrar calma e paciência perante os desafios, você ensina os seus filhos a controlarem as suas emoções e a lidarem com situações de forma mais tranquila.

Se quiser saber mais sobre este assunto, tenho um ótimo livro para lhe recomendar: "Disciplina sem dramas", de Daniel Siegel. Espreite e delicie-se!



23.5.22

8 SEGREDOS PARA UMA SEXUALIDADE FELIZ



O sexo é aquilo que diferencia uma relação romântica das outras relações afetivas, pelo que, para que nos sintamos felizes e entusiasmados na nossa relação conjugal, também precisamos de sentir satisfação sexual. Quais são os segredos para uma sexualidade feliz?


1. Escolher a pessoa certa

Claro que quando iniciamos uma relação é porque nos sentimos suficientemente atraídos por um conjunto de atributos daquela pessoa que nos levam a acreditar que ela é – ou pode ser – a pessoa certa. Mas a maior parte das pessoas que eu conheço – dentro e fora do consultório – já passaram por desgostos amorosos e muitas dessas pessoas reconhecem que tendem a sentir-se atraídas pelo mesmo “tipo” de pessoas. Como refiro no livro “Manual do Amor”, cada um de nós tem um estilo de vinculação amorosa – seguro, ansioso, evitante ou desorganizado. Num mundo ideal seríamos todos seguros e as relações teriam maior probabilidade de dar certo, mas esse mundo também seria provavelmente mais monótono e entediante. Na prática, há algumas combinações mais desafiantes do que outras e escolher a pessoa certa pode implicar conhecermo-nos suficientemente bem, conhecermos as características e necessidades do nosso estilo de vinculação amorosa e, já agora, aprendermos a reconhecer se a pessoa que nos atrai é ou não aquela que vai ser capaz de vir ao encontro das nossas necessidades.


2. Falar abertamente sobre sentimentos e necessidades, também no que toca à sexualidade.

Um casal que não discute é, por norma, um casal que não se conhece mutuamente, que não tem uma relação que possa ser considerada íntima do ponto de vista emocional e um casal que, mais cedo ou mais tarde, também vai sentir-se insatisfeito em relação à sexualidade. Ora, se no início de uma relação é sobretudo o desejo por “aquilo” que não é nosso que nos move, numa relação de compromisso o desejo anda de mãos dadas com a segurança e com o preenchimento das nossas necessidades. Se nos esquivarmos a falar sobre o que sentimos – dentro e fora da cama – o mais provável é que comecemos a olhar para a pessoa por quem nos apaixonámos como alguém que até pode continuar a parecer-nos fisicamente atraente, mas por quem não sentimos desejo. Todas as pessoas têm problemas, inquietações e dificuldades. Aquilo que costuma diferenciar os casais satisfeitos com a sua sexualidade dos outros não é a inexistência de problemas ou de sentimentos desagradáveis. É, sobretudo, a capacidade de responder com atenção, afeto e compaixão a cada dificuldade.


3. Fazer “conchinha” depois do sexo

Ao contrário do que uma boa parte do cinema e da imprensa nos tenta “vender”, não é o número de vezes que fazemos sexo ou o número de posições do kamasutra que experimentamos que faz com que nos sintamos mais felizes com a nossa sexualidade. Um dos indicadores de satisfação sexual que a ciência nos tem demonstrado é a “conchinha”. Os casais que se sentem mais felizes com a sua sexualidade tendem a aninhar-se um no outro depois do sexo. Na verdade, isso é mais uma demonstração da ligação que sentem.


4. Cultivar a confiança

Pode não ser a frase mais sexy do mundo, mas a amizade é a base de qualquer relação conjugal feliz e é também, segundo a investigadora Emily Nagoski, educadora sexual com décadas de experiência, um dos dois grandes pilares da satisfação sexual (o outro está identificado no ponto 7). Nós podemos ter sexo louco e intenso com um desconhecido, podemos ter sexo diariamente com pessoas diferentes, mas as investigações mostram que as pessoas casadas tendem a assumir que fazem mais e melhor sexo do que quando estavam solteiras. Isso tem tudo a ver com a amizade e com a confiança. Diariamente podemos escolher entre assumirmos uma postura honesta, confiável e transparente ou não. Quando mostramos o que realmente sentimos, mesmo que seja o nosso desagrado, estamos a cultivar a confiança. Quando mostramos que nos importamos com o que a pessoa que amamos sente e que queremos estar “lá” para ela, estamos a cultivar a confiança. Quando honramos os nossos compromissos e fazemos aquilo que prometemos, também.


5. Alimentar a própria individualidade

A sexóloga Esther Perel popularizou o termo “inteligência erótica”. Segundo a investigadora, é dificílimo desejarmos aquilo que já temos, pelo que, se nos descuidarmos, é possível que ao fim de alguns anos passemos a olhar para a pessoa que está ao nosso lado mais como um/uma irmão/irmã do que como um(a) amante. Na prática, a nossa individualidade, aquilo que continuamos a fazer por nós, para além dos planos a dois, é uma das formas de mantermos uma “distância de segurança”, que nos permite olhar um para o outro com a certeza de que há sempre algo para descobrir. É como se aquilo que fazemos por nós, individualmente, nos permitisse aliar uma dose de mistério, de adrenalina e de incerteza à segurança e à previsibilidade que existem nas relações duradouras.


6. Manter a mente aberta em relação à novidade

Uma relação precisa tanto de segurança e previsibilidade quanto de mistério e novidade. Mas não é apenas a novidade na individualidade. À medida que os anos passam, a vida muda-nos. Nenhum de nós é a mesma pessoa depois de vinte ou trinta anos e muitas vezes não é fácil acompanhar as mudanças da pessoa que está ao nosso lado, manter o ritmo. Algumas pessoas deixam de comer carne e passam a ser vegetarianas. Outras descobrem o prazer de viajar depois de os filhos saírem de casa. Ou o prazer do exercício físico. Se cada um estiver disponível para continuar a descobrir o outro e para alinhar em programas novos, experiências novas, aventuras novas, é mais provável que o casal continue a sentir-se unido e entusiasmado.


7. Ir à festa… mesmo quando não apetece

Certamente já passou pela experiência de não ter a mínima vontade de ir a uma festa ou a outro evento, mas acabar por ser arrastado(a) por outras pessoas ou sentir-se na obrigação de marcar presença por consideração a um familiar ou a um(a) amigo(a) e, depois, assumir que foi a melhor coisa que fez porque acabou por se divertir. Nem sempre nos apetece fazer sexo. Às vezes já temos o pijama vestido ou está a começar a nossa série de televisão favorita e é fácil dizer “não”. Mas quando cedemos e nos deixamos levar pelas carícias da pessoa que amamos, acabamos por divertir-nos e sentir prazer. Aquilo que os casais mais felizes com a sua sexualidade têm em comum é a amizade e o facto de darem prioridade ao sexo. Eles aparecem na festa, ainda que, no início, nem sempre lhes apeteça. Isso não significa que estejam sempre disponíveis ou que não haja negas. Claro que há! Outra coisa que estes casais têm em comum é o facto de saberem lidar com as negas: não há culpabilização nem amuos. Há carinho e compaixão.


8. Gerir as expectativas

Os casais felizes NÃO são almas gémeas, não leem pensamentos, não são atores pornográficos, nem chegam diariamente montados num cavalo branco com um ramo de flores na mão. A satisfação sexual tem pouco a ver com performance ou com a frequência das relações sexuais. A maior parte das pessoas faz menos sexo do que gostaria ou do que idealizara. Porquê? Porque a vida acontece. Porque há rotinas que nos atropelam, há problemas que nem sempre conseguimos afastar do nosso pensamento, porque há birras e outras solicitações para gerir, porque há sono, muito sono. De vez em quando podemos ter de colocar na agenda um ou outro lembrete para que não nos esqueçamos de namorar, ou simplesmente reservar tempo e escolher, intencionalmente, manter o resto da vida (preocupações) em stand by. Gerir as expectativas não é baixar a fasquia. É sermos justos e bondosos connosco e com a pessoa que está ao nosso lado.

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